Reflexões pessoais sobre a crônica cotidiana. Fatos vivenciados ou observados produzem ecos dentro de nós. Aqui esses ecos são narrados e comentados. Para um observador atento, a vida é um livro. Só é preciso olhar, deixar que as imagens diárias, os personagens e as histórias fluam por nossos olhos. Algumas vezes são comédias, outras tragédias, mas na maioria das vezes são só histórias. O eco sim!!! Esse pode ou não ser transformado em reflexão.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Tú és pó, e ao pó voltarás. (Gen. 3, 19)
Não tenho problema em lidar com material biológico. Algumas vezes tenho problemas com os odores biológicos, mas isso é para outra história.
Ao longo da minha carreira científica, entrei em contato com diferentes materiais biológicos: tomei banho de conteúdo ruminal, tive fezes de suíno dentro da orelha, tive a experiência fascinante de escorregar e cair deitada em um pasto enlameado e repleto de estrume e por aí vai...
Durante a graduação já dissequei vários animais, apesar disso nunca ter me agradado, mas eramos obrigados. Naquela época não havia essa consciência de não se sacrificar animais em aulas. E assim, com muita técnica, material cirúrgico e revolta "abri" anfioxo, intestino de barata, sapo, rato, pombo, coelho etc etc
Também tive aulas teóricas e práticas de anatomia humana e as peças anatômicas sempre nos eram apresentadas em bandejas de inox. Dependendo do assunto da aula, nós recebíamos a bandeja contendo os órgãos correspondentes. A única coisa que me causava algum impacto naquelas aulas era o terrível cheiro de formol.
Acredito que não sou uma pessoa muito vaidosa e nem faço culto ao corpo. Mas valorizo esse veículo, pois é o modo que eu existo nesse mundo. Nesse corpo, posso interagir com as outras pessoas e seguir meu caminho. Não esquecendo que o corpo é morada do Espírito Santo.
Quando as pessoas nos olham, elas observam o nosso corpo. Eu fiquei pensando sobre o corpo quando fui buscar no crematório, as cinzas da minha mãe. Elas me foram entregues dentro de uma sacolinha de papel branca. As "cinzas" vieram dentro de um saquinho plástico transparente de mais ou menos 2kg juntamente com pedacinhos de ossos. Fiquei pensando como minha mãe era, como era seu corpo, como era sua personalidade e agora tudo isso é pó.
Me responde uma dúvida: Pra que tudo isso? Pra que tanto orgulho? Pra que tanta arrogância? Pra que???
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Dentro do olhar
Aquele olhar me chamou atenção.
Parei por alguns instantes o turbilhão de pensamentos.
Coloquei foco naquele lindo par de olhos.
A observação deveria ser um ato puro e segundo a metodologia científica, não deve estar submetida a ação do pensamento. No momento da analise observatória só deve estar envolvido o objeto analisado e o observador.
Logo pensei, dando uma conclusão: não tem vida nesse olhar. Está morto. Está concluído!
Mas de repente vi algo brilhar, mesmo que pequeno, ainda vi um brilho. Aquela lágrima foi a prova que precisava para alterar meu diagnóstico.
Como uma planta que teima em nascer no meio do concreto. Talvez ainda haja alguma vida tentando vive.
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