Tenho memórias gustativas que nunca me abandonam. Minha bisavó fazia uma sopa de letrinhas para mim quando criança e eu tenho uma clara lembrança do seu gosto. Era um caldinho de carne com macarrão de letrinhas. Simples assim, mas me confortava muito quando meus pais saiam e eu passava a noite na casa dela. Já repeti a receita, mas nunca fiquei satisfeita com o resultado.
Quer ver outro exemplo: minha avó fazia macarronada aos domingos e eu ficava ajudando na cozinha. Depois de muitos anos após o falecimento da minha avó, eu queria muito aquele macarrão que ela fazia. Sentia até o cheiro, em minha memória. Fui a feira, comprei os tomates maduros e repeti todo o ritual que ela fazia durante o preparo do molho e da massa. Foi confessar sem falsa modéstia que ficou bom, mas não era igual ao da minha avó. Faltava a família grande ao redor da mesa, faltava o barulho da panelas e faltava a minha avó.
Com amores antigos é a mesma coisa. Depois que o romance acaba e desencontro é inevitável, fica guardado em algum cantinho da memória o gosto daquela paixão. O cheiro da pele, o sabor dos beijos, a textura da boca, a pele, o jeito... Cheirar o perfume que o amado usava ou ver alguém parecido nos remete a época feliz da paixão e faz até o coração pulsar descompassado. Mas provar novamente desses amores não tem o mesmo sabor e geralmente é só decepção.
Agora tem uma coisa que nunca muda, o sabor de reencontrar amigos de longa data. Tem amigo que fez parte das nossas vidas. Amigo que é irmão companheiro mas pelas circunstancias, passa-se anos sem se encontrar. Mas a amizade permanece na memória. Cada história que viveu junto é contada inúmeras e sempre com gostinho bom. Quando se tem oportunidade de rever esses amigos e compartilhar novamente a vida juntos, nem se for por pouco tempo, esse tempo tem o mesmo sabor antigo. Rever amigos é reviver bons momentos. Amizade antiga tem sabor de saudade satisfeita. É máquina do tempo. É reviver.
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